domingo, 24 de novembro de 2013

O reflexo das Manifestações nos estudos das Ciências Sociais

Um movimento tão inesperado e curioso, até mesmo por sua repercussão nas redes sociais virtuais não podia gerar nada menos que um grande número de estudos e teses sobre seu desenvolvimento. Dando grande material é claro, para as Ciências Sociais.
A contribuição das duas grandes áreas da Antropologia para a amplificação da compreensão do fenômeno humano ampliou ao longo da história da antropologia muitas temáticas de pesquisa, que deram origem ramificações do conhecimento de cada campo antropológico, admitindo peculiaridades de discussão.
“A antropologia no Brasil tem vasta produção acadêmica, particularmente em temáticas como estudos de gênero, Identidades culturais, estudos de população, antropologia visual e da imagem, antropologia das emoções, antropologia política, antropologia urbana, entre outras.”
Focando no ramo da Antropologia Urbana, como retrata o texto de Magnani acontece uma análise da antropologia urbana no âmbito das ciências sociais e sua contribuição para o estudo e a compreensão do fenômeno urbano, especialmente no caso das grandes metrópoles contemporâneas. Para realizar essa tarefa, a antropologia urbana utiliza do método etnográfico, tendo como desafio aplica-lo sem cair na busca heterogênea da realidade das grandes cidades as condições da aldeia. O estudo de formas de sociabilidade e práticas culturais na escala da metrópole são apresentados por pesquisas recentes sobra a cidade de São Paulo, realizados no Núcleo de Antropologia Urbana (NAU) e no Departamento de Antropologia da USP.
O professor de Ciências Políticas e Antropologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) Wilson Ferreira da Cunha, disse que “apesar de não ter uma pauta definida, as manifestações dão, de fato, um recado para a política brasileira.”. De acordo com o professor, os jovens manifestantes buscam por partidos políticos com metas e programas que tenham participação política e partidária, além de compromisso com a coletividade e não apenas com o governo. Entrevista a CBN Goiânia. (Link aqui)
Outro grande estudo de repercussão, transformado em livro inclusive, na sinopse da editora consta como “escrito e editado no calor da hora” foi “Cidades Rebeldes | Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil” de David Harvey, Ermínia Maricato, Mike Davis, Ruy Braga, Slavoj Žižek onde todos possuem um grande e qualificado currículo pra discutir sobre o assunto. (Booktrailler aqui)
“Cidades rebeldes é um livro de intervenção, que traz perspectivas variadas sobre as manifestações, a questão urbana, a democracia e a mídia, entre outros temas.” (EDITORA BOITEMPO

Com todos os estudos, pode-se perceber a importância dos estudos das Ciências Sociais que revelam o que está “por trás” das Manifestações Sociais no Brasil (e no mundo) e da sociedade que transforma o mundo, não sendo apenas uma reinvindicação de tarifas de ônibus menos abusivas, nem mesmo por menos corrupção e sim, o caminho que a sociedade já percorreu e ainda percorrerá com essas mudanças. É uma tentativa de resposta, muito próxima da certeza, do que veio e do que virá a se transformar a sociedade.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Antropólogos e as manifestações sociais

“Entrar e mergulhar numa situação nova, deixando-se impregnar por aqueles
estímulos e procurando familiarizar-se com todos aqueles significados.”

   Este trecho retirado do livro “Antropologia urbana e os desafios da metrópole” do antropólogo José Guilherme Cantor Magnani, não foi criado para falar sobre as manifestações mas bem que poderia ser utilizado já que as pessoas deixaram a apatia de lado e mergulharam de cabeça na luto pelos seus direitos. Toda a população brasileira, mesmo aquela que não participou das manifestações de forma direta, sentiram a força e a importância dela para o país e querendo ou não, seu significado já era conhecido por todos. A união da população em torno de um ideal em comum conseguiu não só fazer a população brasileira que assistia "de fora" ficar de boca aberta como também chamar a atenção mundial para o país que já era o centro das atenções pois sediará a Copa do Mundo da Fifa de 2014.

   O livro de José Guilherme Cantor Magnani, “A antropologia urbana e os
desafios da metrópole” trata em geral sobre o tema etnografia. Podemos relacionar com as manifestações sociais esse tema porque, querendo ou não, etnografia é um registro deixado por raças de determinada região, nesse caso é a população brasileira mais uma vez escrevendo sua história, lutando pelos seus direitos e por uma vida mais justa para todos.



   Em uma notícia publicada no site da rádio CBN de Goiânia a manchete de umas das noticias sobre as manifestações dizia que os antropólogos acham que o recado das manifestações é a ausência de representação política. A manifestação como de fato aconteceu, não tinham um objetivo definido, ela questionava várias coisas, entre elas a política brasileira. Para Wilson Ferreira da Cunha professor de Ciências Políticas e Antropologia da PUC-GO, os manifestantes querem partidos políticos com metas e programas com participação política e partidária e que se comprometam com a coletividade.

   Outro antropólogo, Luis Eduardo Soares, durante uma entrevista ao programa “Saia Justa” da GNT, falou um pouco sobre as manifestações que aconteceram no Brasil. Ele levantou importantes pontos que podemos destacar na seguinte fala dele: “É uma maneira de nós, como sociedade, nos inscrevermos em uma narrativa global porque, segundo a minha intuição e o que percebi nas ruas, nós não fomos respeitados pelo o que definimos como poder político. Nós fomos desrespeitados, apesar da forma democrática dos procedimentos”.

   Podemos perceber nessas entrevistas que os antropólogos levam a discussão mais para o lado político da coisa, apesar de as manifestações não terem um caráter apenas político e sim um caráter misto.

Émile Durkheim e as manifestações sociais

As manifestações sociais que ocorreram no Brasil no ano de 2013 pode ser diretamente ligado a vários pensadores filósofos e sociólogos , dentre eles podemos destacar Émile Durkheim.
Durkheim defende que a sociedade deve ter uma coesão, caso contrario ela se desfaz. Pois cada um dirigiria para o seu lado, pensando só em si, teria assim uma dissolução da sociedade. Durkheim busca a “causalidade eficiente” é a busca real do fato, seria a função da coisa dentro da sociedade
Função da educação: embutir no ser uma forma de seguir a ordem.

Sabe-se que Durkheim foi um sociólogo que viveu durante os seculos XIX - XX porém em suas obras é possível identificar uma relação aos problemas da sociedade contemporânea , como podemos perceber parte dos problemas é causa de um individualismo por parte de uma minoria que detém o poder em suas mãos e com intuito de enriquecimento  pessoal . As manifestações nada mais são que uma resposta popular a todos abusos políticos e as desigualdades sociais sofridas pela população brasileira . 


“A educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade politica no seu conjunto” Émile Durkheim . 
Podemos considerar a educação a principal arma de uma sociedade contra as desigualdades e é por isso que se tem uma necessidade imensa de investir nessa área no Brasil , é necessário que seja entendido o poder que a população tem em mãos e que continuem a reivindicar seus direitos .
 
Conforme Piotr Kropotkin: “Nenhuma revolução social pode triunfar se não for precedida de uma revolução nas mentes e corações do povo.” Sendo assim devemos ressaltar como prioridade uma mudança nas urnas,  no nosso governo e principalmente na forma de pensar , caso contrario continuarão a mudar os governantes mais nunca mudará a forma de governo. 


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Sócrates e as manifestações sociais



    Os protestos no Brasil que ocorreram nos meses de junho e julho do ano de 2013, que são varias manifestações populares por todo o pais que inicialmente reivindicavam o aumento das tarifas do transporte publico, que foi o estopim para todo esse alvoroço, foram a maior demonstração de cidadania e democracia deste milênio no país e revelam uma juventude ansiosa por construir um mundo melhor.

As manifestações ocorreram por todo o pais, surgindo principalmente em Manaus, Fortaleza, Natal, Salvador, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, e ganharam cada vez mais apoio popular devido à indignação em relação ao modo como os manifestantes foram desumanamente reprimidos pelas forças policiais.

    A foto à cima foi tirada durante as manifestações ocorridas no Brasil durante os últimos meses. As inscrições no cartaz revelam a revolta e indignação do povo em face das atrocidades cometidas pelo governo para com os manifestantes.







    A população reconheceu o seu verdadeiro poder sobre o governo, reconheceu que não existe governo sem apoio da população e as manifestações  passaram a abranger uma variedade de temas, como os gastos com eventos homéricos enquanto que nos temas saúde, segurança e educação, deixa a desejar há muito tempo, e, principalmente, a indignação com a corrupção política. 

    Milhões de cidadãos foram pras ruas, tomados pelo espírito libertador, pelo espírito manifestante e revolucionário que lhes afastou a inércia para reivindicar melhorias do seu pais, com tributos padrão Dinamarca e retorno pra sociedade padrão país subdesenvolvido.
    

     Segundo Sócrates, "O homem verdadeiramente corajoso sabe que há coisas que é preciso temer mais que a própria morte: a injustiça, o não cumprimento do dever..." E foi justamente a coragem do homem aliado à sensação de injustiça que despertou esse comportamento revolucionário na sociedade fazendo com que essa temporada de protestos entrasse para a  historia do Brasil.
    Para Sócrates, o governante ideal é aquele que não se entrega aos impulsos e desejos humanos. Sua natureza é dotada de coragem, generosidade e principalmente honestidade! Como se poderia, criticar uma atividade que não se conseguiria jamais exercer bem sem estar dotado naturalmente de memória, de vontade de aprender, de generosidade, de elegância, sem possuir uma afinidade íntima com a verdade, com a justiça, com a coragem, com a temperança?
      Não é o que acontece no Brasil. Os políticos, em sua grande maioria, são corruptos, mesquinhos e trabalham apenas para beneficio próprio, possuem uma índole medíocre e pouco se preocupam com a população, senso assim responsáveis pelas maiores calamidades de um Estado (corrupção, mensalão, desvio de dinheiro público, superfaturamento de obras) e dos cidadãos (fome, pobreza, transporte público precário, abandono do serviço público).










Uma visão sócio antropológica das manifestações sociais



Em 2013 uma série de manifestações sociais estouraram no Brasil mobilizando todo o país a ir para as ruas e protestar contra diversos problemas que rodeiam o nosso país. Inicialmente essas manifestações reivindicavam a redução das tarifas nos ônibus, mas a medida em que o número de participantes aumentava, aumentava também o que era reivindicado. A população brasileira se uniu, ainda que de forma desorganizada, para lutar contra o fim da corrupção, da “cura gay”, do “ato médico” e contra os gastos com a Copa de 2014. Porém, é importante lembrar que o Brasil não foi o único lugar onde o povo saiu às ruas para manifestar.
Tendo início na Tunísia, uma onda de manifestações vem ocorrendo desde 2010 no Oriente Médio. Vale ressaltar que tanto as manifestações realizadas no Brasil como as realizadas na Tunísia tiveram as redes sociais com um importante meio de divulgação e propaganda desses protestos, o que, para o antropólogo Luiz Eduardo Soares é uma forma de “aproximar os brasileiros do modelo globalizado de tomada dos espaços públicos como método de democracia direta ou de ação política não mediada por instituições, partidos e representantes”.
 O sociólogo Immanuel Wallerstein vê essas revoltas que eclodiram no mundo como “um processo contínuo de algo que começou com a revolução mundial de 1968”. Ele afirma que apesar de cada revolta ter as suas particularidades, existem certas similaridades que devem ser levadas em consideração.
A primeira característica em comum que Wallerstein destaca é que todas as revoltas tendem a começar pequenas, mas rapidamente e de forma imprevisível, elas se tornam maciças. De repente não é só o governo que está sendo atacado, mas também o Estado. O governo no poder reage: ou tenta reprimir ou tenta amenizar as manifestações com concessões. Geralmente o governo recorre à repressão ao invés das concessões, mas essa repressão tende a funcionar em curto prazo.
A segunda característica é que nenhuma revolta continua em velocidade máxima por muito tempo. Mas a diminuição da intensidade nos protestos é normal e não significam uma derrota.
O terceiro fator é que embora os levantes terminem, eles deixam um legado e conseguem mudar algo na política de seus países.
O quarto é que em cada protesto vai ter alguém que se une ao movimento tardiamente não para reforçar os objetivos iniciais, mas para corrompê-los ou tentar levar ao poder político um grupo distinto dos que estão no poder, mas que não são mais democráticos ou se preocupam com os direitos humanos.
E finalmente Wallerstein traça a quinta característica em comum: todos acabam envolvidos no jogo geopolítico.
Sobre as manifestações ocorridas no Brasil, o antropólogo Luiz Eduardo Soares, ao falar sobre os jovens indo às ruas e participando, mesmo que de forma pequena, na política do país, ele provoca dizendo que “O tempo é de imprevisibilidade e sustos, riscos e ameaças, mas também de beleza: o novo insinuando-se pelas frestas de nossa democracia, que sofre de esclerose precoce”. Para ele, com relação ao estopim das manifestações, o protesto contra o aumento das passagens de ônibus, o valor é apenas a ponta do iceberg, pois unido a isso está a qualidade dos transportes públicos e o verdadeiro caos que se tornou a mobilidade urbana. E a partir do protesto contra as tarifas surgiram vários outros problemas que foram levados às ruas, mas que estavam conectados entre si por um ponto principal: a desigualdade social que aflige o Brasil.

Quanto à participação do jovem, Soares diz que quando os jovens vão às ruas protestar, eles estão demonstrando que as coisas podem mudar, porque o povo é que faz a história “combinando liberdade e limites, circunstâncias e oportunidades, imaginação e ousadia”. Ele afirma que não sabe no que vai dar o movimento, quais e como serão as consequências disso, entretanto ele diz que “é necessário afirmar com humildade nossa ignorância ante um processo cuja natureza nos desafia, intelectualmente”. Frente à mudança, o primeiro impulso das pessoas é defensivo, porém é preciso parar de projetar o velho no potencialmente novo para apaziguar a angústia que o desconhecido traz. Luiz Eduardo segue dizendo que “se o propósito é conhecer, devemos desnaturalizar as imagens já formadas, inclusive porque, nesse campo, toda interpretação é também intervenção, é também ação social”.
Concluindo, não se pode deixar de lado a obra do antropólogo José Guilherme Cantor Magnani que no seu texto A antropologia urbana e os desafios da metrópole analisa a situação da disciplina antropologia urbana no campo das ciências sociais e sua contribuição para o estudo e a compreensão do fenômeno urbano, principalmente no caso das grandes metrópoles contemporâneas. Justamente neste momento parece ser importante falar que a “etnografia é uma forma especial de operar em que o pesquisador entra em contato com o universo dos pesquisados e compartilha seu horizonte, não para permanecer lá ou mesmo para captar e descrever a lógica de suas representações e visão de mundo, mas para, numa relação de troca, comparar suas próprias representações e teorias com as deles e assim tentar sair com um modelo novo de entendimento ou, ao menos, com uma pista nova, não prevista anteriormente”.É isso que se espera dos antropólogos e sociólogos com relação à construção de um pensamento que ajude a todos compreenderem a importância histórica e política dessas manifestações.


Referências:
1.WALLERSTEIN, Immanuel. Levantes aqui, ali e em toda parte. Disponível em <http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Movimentos-Sociais/Wallerstein-Levantes-aqui-ali-e-em-toda-parte/2/28373> 
2.Entrevista com o antropólogo Luiz Eduardo Soares. Disponível em <http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_canal=41&cod_noticia=23780>

3.MAGNANI, José Guilherme Cantor. A antropologia urbana e os desafios da metrópole.